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Foto do escritorTA Studios

As várias facetas conscientes de uma criadora.


Com imenso prazer, começamos uma série de entrevistas e narrações com designers, estilistas e artistas e as suas relações sustentáveis, transparentes, políticas e conscientes com o seu trabalho. Pessoas acessíveis, com um trabalho artesanal e autoral, em seu ateliê aberto ou as vezes da sala de sua casa, transformando e inspirando o seu entorno. “No Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPE). As MPEs respondem por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado (16,1 milhões).” Fonte Sebrae.


A primeira persona a nos inspirar é a Caro Pierro, designer e jornalista da @pibags, marca de acessórios para uma vida de bike e yoga, com sede em Botafogo, no Rio de Janeiro, no espaço Uma Casa Um.

Conheci a Caro, (Maria Carolina), no Galpão da Malha.cc onde éramos residentes em 2016. Não tinha quem não se apaixonasse por ela, ao vê-la chegando de bike da Zona Sul, para o bairro de São Cristóvão. Seu sotaque argentino em um português muito claro, expõe ideias sobre o feminismo e sustentabilidade, com uma postura doce, porém firme e papo reto, prezando por um cenário de consumo horizontal e mais justo.

Ela acaba de traduzir para o português, o livro espanhol “Sopa de Wuhan – Pensamento Contemporâneo em Tempo de Pandemia”, uma coletânea de textos de vários autores da Editora Siesta, e é sobre ele que falaremos. Ah, você pensou que escreveríamos apenas sobre moda? Espero então, que você não se decepcione ao descobrir as outras facetas de um criador, anteriores as suas criações. O livro está disponível para download neste link.


Quando surgiu a ideia de fazer a tradução de Sopa de Wuhan e o que a inspirou?

A ideia de traduzir livros em espanhol para o português ja tem um tempo. Trabalhei como jornalista na Argentina e aqui, e sempre senti que existia uma barreira linguística muito forte entre o Brasil e o resto da América hispano-falante. Comecei esse ano escrevendo em portunhol, brincando de misturar as línguas mas cuidando as formas para que sempre de para entender. Na Casa Um rolou também o PF, um encontro de artes em portunhol, misturando pessoas e saberes da América Latina toda. Sopa de Wuhan chegou nas minhas mãos enquanto estava trabalhando nuns textos pessoais, e o impulso inicial foi traduzi-lo para criar, de fato, essa ponte linguística. Algumas das matérias do livro já estavam circulando pelas mídias brasileiras, mas muitas outras não, principalmente as dos pensadores latino-americanos. Confesso que teria adorado que o livro fosse traduzido ao portunhol, mas isso teria reduzido drasticamente sua circulação. Está em português, e foi revisado pelo Professor de Filosofia Mauro Sá Rego. O livro tem download gratuito, e a intenção é que circule livremente, que ofereça diferentes opiniões, e que gere debates em esferas dentro e fora do âmbito acadêmico.



Como ele pode cooperar com o mundo atual?

Ele democratiza o debate, gera questionamentos, enfrenta opiniões. Acho que é o momento ideal para repensar em futuros possíveis, e que antes de agir é preciso refletir. Podemos refletir sozinhos, confinados, ou podemos debater em conjunto, como sociedade, ouvindo opiniões diversas, concordando e discordando. Acho que ele coopera ao ordenar e reunir diversidade de pensamentos, e propõe a pausa para ler, pensar, e depois debater. Porque não tem como não debater depois de ler esse livro!


Qual a mensagem que ele traz? Chamadas para ações?

Ele não traz uma mensagem, senão simplesmente pega um fato, um acontecimento, e o analiza desde diferentes ângulos. Se tem uma mensagem é a importância de ouvir diferentes vozes, diferentes realidades, entender o lugar de fala de cada um, o contexto, antes de tomar uma posição e partir pra ação.





A quem se destina esta obra? Pessoas do futuro, do presente ou do passado?

Sinto que é um livro muito presente, e por isso também a pressa em traduzi-lo ao português em menos de uma semana, e a vontade de que circule rapidamente agora. Não foi doidera, foi urgência. O momento de refletir é agora. Sem dúvidas será útil para análises históricos futuros, mas isso, pessoalmente, não é meu foco.


É só o primeiro de muitos?

Sim, estou trabalhando em outros dois projetos. E estou de olho num texto de um pensador brasileiro que acabou de ser lanzado, sei que não foi traduzido, e acho importante que circule em espanhol. Se tivesse a oportunidade de traduzi-lo em outras línguas originárias, caramba, seria um sonho.


Fale um pouco sobre a Caro.

Como é a Caro pela Caro?

Essa é uma difícil, mas vamos lá. Se tivesse que me definir acho que teria que ser dentro de um tempo, porque se tem algo em mim que é fixo é a mudança e a experimentação. Sou uma pessoa que se reinventa, e gosto muito disso, de me adaptar a novas situações e lugares. Por isso as crises são sempre momentos de mega criatividade pra mim, onde surto e surgem muitas ideias que consigo botar na prática. Curto muito os desafios, e sinto que sou minha própria cobaia! Me interessa circular entre as artes, e que as ideias tomem formas diferentes segundo a ferramenta que esteja usando: podem ser palavras, desenhos, encontros culturais, receitas, músicas. Não sou boa em tudo, mas isso não me importa: adoro cozinhar, mas não recomendo minhas comidas, e adoro tocar o violão, mas ninguém precisa me ouvir! Por muito tempo me defini como bici-jornalista, depois teve que me redefinir como designer, e hoje acho que sou mais uma artista multimídia do que qualquer outra coisa. Sou muito curiosa, questionadora, fundamentalista, às vezes radical, e preciso sentir que sou livre, que tenho espaço e tempo. Sou argentinísima, honro minhas raízes, e adoro a minha família. Pra os astrólogos: leão "border" virgem, ascendente em áries, lua em câncer. Pareço durona mas lá no fundo sou uma fofa.



Fotos: Katja Schiliro


O quanto você acha que a Pi bags está impactando a vida de outras pessoas, neste momento de reflexão coletiva?

Não saberia te dizer. A marca continua funcionando, as mulheres que trabalham junto comigo estão produzindo, cada uma na sua casa (igual sempre), e temos pedidos para segurar onda nos próximos meses. A Pi o que faz e me conectar com outras esferas, outras realidades, e me ensina muito. Desde a marca doamos máscaras, colaboramos em várias iniciativas para fazer compras de cestas básicas, e apoiamos campanhas de outras marcas. Criamos também ações coletivas para ajudar outras marcas a sobreviver nessa crises, incentivamos parcerias, indicamos outras empreendedoras, e agimos pensando no coletivo mais do que nunca. Sinto que posso fazer um aporte maior apoiando a Editorial Siesta, e desde a editorial comunicamos o link do livro para todas nossas costureiras, para a galera que trabalha indiretamente, para os uber, os motoboys, as ongs de amigos. É uma rede, no final das contas, onde uma iniciativa apoia a outra, e uma pessoa ajuda a outra. E minha intenção sempre será a de criar e fortalecer redes. Muito está sendo fora das redes sociais, porque az vezes o mundo analógico é mais próximo, mas prático, e mas real.


Dicas para outras marcas conscientes e sustentáveis neste agora.

Pensem no coletivo, fortaleçam suas redes, e não se apeguem a antigos esquemas. Não vale a pena segurar um projeto que não está fluindo, ainda se botamos toda nossa energia nele. Não quer dizer que não seja bom, senão simplesmente talvez não seja o momento certo. Apoiem o que já está rolando, as iniciativas dos outros, em vez de querer inventar novas próprias (olha o ego ae!!!). Peçam e aceitem ajuda. Agir local, pensar no vizinho, e aceitar que não temos controle sobre nada.


Em tempo de quarentena, qual é a sua motivação do dia a dia, para que ele se torne produtivo?

Sou uma pessoa muito privilegiada, que consegue viver do que adora, e tenho um espaço lindo, saúde, família, amigos, projetos. Isso já é suficiente. Tem dias mega produtivos, e outros que faço coisas improdutivas, brinco, leio, converso durante horas com amigos. Produzir não é tudo, senão só uma parte de meu dia a dia. Isso me motiva: a novidade da não rotina, a liberdade. Assim, acabo sendo bem mais produtiva quando preciso.


Estando "quarentener" você prefere durante as suas 24 horas do dia, pensar no presente ou no futuro?

Fico pulando de um para outro.


Qual hábito novo, se tornou um ritual diário?

Banho de água fria e comer pasta de amendoim a colheradas.


Dicas de bom conteúdo para "os quarenteners." (Livros, música, filmes, séries).

Estou assistindo um seriado sobre plantas sagradas na Colômbia que um camarografo colombiano recomendou no Facebook, e achei no Youtube. Estou amando! Se chama “Plantas de Poder”. Tem muita galera legal que voltou a compartilhar conteúdo interessante, diferente, alternativo e gratuito no Facebook. Quem diria… E antes da quarentena minha irmã veio de visita com uma mala cheia de livros de literatura latino-americana contemporânea, livros que estou devorando para logo emprestar para amigues. Uma dica: desliguem a TV, saiam do Netflix, deixem de assistir lives no Instagram. Voltem a trocar livros com amigos, a pesquisar filmes e documentários alternativos, a ouvir playlists criadas por conhecidos, fugindo dos algoritmos ;)


Quando acabar a quarentena eu vou...

Abrazar meus vizinhos, que me cuidam e ajudam a diário; tomar um mate, fazer uma festa e dançar com meus amigos, que me acompanham à distância; acabar o acampamento no atelier, me mudar pra uma casita e convidar o crush, porque somos humanos, né?


A Caro, veste Calça Saruel, preto malha e T-shirt Saturno da TA Studios, com sapatos da Lapa Shoes e acessórios da Patiê Jóias Autorais.



Obrigada Caro.


A Pibags fica na Rua Marques de Olinda, 96, loja 1

Botafogo. Rio de Janeiro

De segunda a sexta das 10 as 19hs. (Não por enquanto, em meio a Pandemia)

Instagram: @pibags

Projetos paralelos: @umacasaum @rotabotafogo


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